"O sorriso está a desaparecer da face dos portugueses", disse, hoje, no Porto, o Prof. Doutor Freitas-Magalhães, Director do Laboratório de Expressão Facial da Emoção, da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS), da Universidade Fernando Pessoa.
Falando na apresentação dos resultados do estudo científico pioneiro "A expressividade do sorriso: Estudo de caso em jornais diários portugueses", aquele especialista em expressão facial da emoção revelou que a face neutra e o sorriso fechado são os tipos de expressão facial mais exibidos nos jornais diários portugueses em 2010. Só em 2010, foram analisadas 33.806 fotografias.
Os resultados apontam no sentido de, nas fotografias apresentadas, as mulheres continuarem a sorrir mais do que os homens, apesar do registo descendente em relação a 2009, independentemente da idade, e os homens apresentarem mais o sorriso superior a partir dos 60 anos; as crianças são as que continuam a apresentar mais e frequentemente o sorriso largo, um padrão que se mantém desde 2003, ano de início do estudo.
Em comparação com o anterior estudo, realizado de 2003 a 2009, continua a constatar-se uma diminuição relevante na frequência e intensidade do sorriso, isto é, a face neutra é a expressão mais exibida e o sorriso superior é substituído pelo sorriso fechado, com tendência significativa para a face neutra.
Os resultados apontam para um diminuição significativa na exibição de qualquer tipo de sorriso e o aumento da expressão neutra em mulheres e homens. No universo das fotografias analisadas, verificou-se, também, que a expressão facial de emoções negativas é mais frequente e intensa do que a de emoções positivas. Este padrão acentuou-se significativamente em 2010.
O estudo faz parte do projecto "Uma década do sorriso em Portugal" vista através dos jornais diários portugueses e terminará em 2013, ou seja, estão cumpridos sete anos. Trata-se de um estudo longitudinal pioneiro a nível mundial.
Desde 2003, foram analisadas 310.291 fotografias (116.800 no período 2003-2005, 48.200 em 2006, 39.452 em 2007, 37.607 em 2008, 34.426 em 2009 e 33.806 em 2010.
Para o Prof. Doutor Freitas-Magalhães, "e pela observação feita ao longo dos sete anos de estudo, está comprovado que um dos moderadores da frequência e intensidade da exibição do sorriso é o contexto social, o que se verifica no caso português, pois a situação económico-social potencia a inibição da expressividade, acrescentando que o género e a idade são os outros dois moderadores".
"O sorriso é uma reacção neuropsicofisiológica que se desenvolve em situações que envolvam o bem-estar e a felicidade e quando tal não se verifica, por motivos externos, o sorriso é inibido e recalcado", disse, para acrescentar que "o universo das mais de 311 mil fotografias analisadas demonstra que os portugueses estão a sorrir cada vez muito, muito menos, sendo esse um indicador preocupante pelas consequências na saúde e na interacção social".
"A felicidade está na cara das pessoas e o sorriso é um sinal que está a desaparecer a “olhos vistos”, considerou o Director do FEElab/UFP.
“O sorriso é um dos principais organizadores do psiquismo humano. A sua inibição potencia sentimentos, emoções e condutas negativas levando a um quadro psicopatológico preocupante”, enfatizou o Prof. Doutor Freitas-Magalhães.
O Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab/UFP) foi fundado em 2003 e é único do género em Portugal, tendo sido o seu trabalho científico "pioneiro e inovador" distinguido por diversas entidades internacionais, como, por exemplo, o Governo do Reino Unido, multinacional Nokia e a Elsevier, a maior editora médica e científica do mundo.