Foto: 2010, S. Po. |
"Os portugueses estão mais tensos e ansiosos e isso vê-se na face", revelou hoje no Porto o diretor do Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab/UFP), da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS), da Universidade Fernando Pessoa (UFP).
Para o Prof. Doutor Freitas-Magalhães, que falava na apresentação dos resultados do projeto científico mundial pioneiro "Uma Década de Sorriso em Portugal (2003-2013)","a frequência e a intensidade das emoções negativas na face dos portugueses têm vindo a aumentar e isso deve-se à influência do contexto social desfavorável".
Aquele especialista em expressão facial da emoção revelou que o Laboratório de Expressão Facial da Emoção está a analisar ao comportamento facial, desde 2003 e, nos últimos seis meses, os resultados indicam "valores de emocionalidade negativa crescentes, o que se torna preocupante no processo de interação social, e é um sinal de conflito embrionário".
A face neutra e o sorriso fechado são os tipos de expressão facial mais exibidos nos jornais diários portugueses durante o primeiro semestre de 2011. Esta é uma das conclusões do estudo científico inédito realizado pelo Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab/UFP), após a análise efetuada a 15.243 fotografias.
Os resultados apontam no sentido de, nas fotografias apresentadas, as mulheres continuarem a sorrir mais do que os homens, apesar do registo descendente em relação a 2010, independentemente da idade, e os homens apresentarem mais o sorriso fechado a partir dos 60 anos; as crianças são as que continuam a apresentar mais e frequentemente o sorriso largo, um padrão que se mantém desde 2003, ano de início do estudo.
O estudo terminará em 2013, perfazendo uma década.
Em comparação com o anterior estudo, realizado de 2003 a 2010, continua a constatar-se uma diminuição relevante na frequência e intensidade do sorriso, isto é, a face neutra é a expressão mais exibida e o sorriso superior é substituído pelo sorriso fechado, com tendência significativa para a face neutra.
Os resultados apontam para uma diminuição significativa na exibição de qualquer tipo de sorriso e o aumento da expressão neutra em mulheres e homens. No universo das fotografias analisadas, verificou-se, também, que a expressão facial de emoções negativas é mais frequente e intensa do que a de emoções positivas. Este padrão acentuou-se expressivamente em 2010.
Ao longo dos sete anos e meio de estudo, ficou comprovado que um dos moderadores da frequência e intensidade da exibição do sorriso é o contexto social, o que se verificou no caso português, pois a situação económico-social potenciou a inibição da expressão, sendo que o género e a idade são os outros dois moderadores, explicou aquele especialista.
Para o Prof. Freitas-Magalhães, "o sorriso é uma reação neuropsicofisiológica que se desenvolve em situações que envolvam o bem-estar e a felicidade e quando tal não se verifica, por motivos externos, o sorriso é inibido e recalcado".
O universo das mais de 325 mil fotografias analisadas demonstrou que os portugueses estão a sorrir cada vez muito, muito menos, desde 2003, sendo esse um indicador preocupante pelas consequências na saúde e na interação social, pois a felicidade está na cara das pessoas e o sorriso é um sinal que está a desaparecer a “olhos vistos”, realçando-se que o sorriso é um dos principais organizadores do psiquismo humano. a sua inibição potencia sentimentos, emoções e condutas negativas levando a um quadro psicopatológico preocupante.
O estudo faz parte do projeto pioneiro a nível mundial “Uma Década de Sorriso em Portugal” vista através dos jornais diários portugueses e terminará em 2013, ou seja, foram cumpridos sete anos e meio.
Desde 2003, foram analisadas 325.534 fotografias (116.800 no período 2003-2005, 48.200 em 2006, 39.452 em 2007, 37.607 em 2008, 34.426 em 2009, 33.806 em 2010 e 15.243 no primeiro semestre de 2011).
"Quando a face revela estados emocionais de agressividade, de desconforto, de instabilidade, com recorrência, a possibilidade de levar ao conflito social tem de ser levada muito a sério", alertou o Prof. Freitas-Magalhães, para quem a "face revela os estados emocionais do indivíduo".
Para aquele professor universitário, "os marcadores faciais estão validados cientificamente e não enganam quanto ao sinais manifestados pelos portugueses", para quem "o desconhecimento da validade e fiabilidade da análise científica da expressão facial da emoção leva ao preconceito e ao comentário despropositado".
"Tal como no ADN, a verificação da expressão facial da emoção é feita tendo em conta marcadores precisos, objetivos e científicos", sublinhou aquele especialista, para acrescentar que o seu novo livro pioneiro em Portugal, "O Código de Ekman: o Cérebro, a Face e a Emoção", "apresenta, com exemplos muitos claros, os métodos e as técnicas que permitem medir a face humana e fornece indicadores concretos sobre a face dos portugueses".
"Quando se faz a biopsia dos movimentos musculares faciais, tal procedimento pressupõe que se aplique o fundamento científico", esclareceu o Prof. Freitas-Magalhães, para garantir que os "movimentos faciais dos portugueses nos últimos seis meses revelam agressividade, desconforto e ansiedade".
Questionado sobre as implicações e aplicações dos seus estudos, o diretor do Laboratório de Expressão Facial da Emoção enfatizou a ideia de que "só faz sentido fazer ciência" quando a mesma é "partilhada com a comunidade em geral" e que, "mais cedo ou mais tarde - é uma questão de tempo -, o estudo científico da face humana fará parte da vida de todos como uma disciplina natural".
"Na face humana está toda a verdade", concluiu o Prof. Freitas-Magalhães, que tem sido distinguido por diversas entidades internacionais pelo "pioneirismo e inovação" do seu trabalho científico na área da expressão facial da emoção, e é autor de diversos artigos e livros científicos, entre os quais, "O Código de Ekman: o Cérebro, a Face e a Emoção" e "A Psicologia das Emoções: o Fascínio do Rosto humano".
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